#93 Alice Ramos – Estereótipos, preconceito e racismo


Alice Ramos é doutorada em Ciências Sociais, com especialidade em Sociologia pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, onde é actualmente investigadora. A convidada tem-se dedicado a analisar o impacto conjugado de factores individuais e contextos sociais nas atitudes face aos imigrantes e no preconceito racial. Desde janeiro de 2018, é também a Coordenadora Nacional do Inquérito Social Europeu e do Estudo Europeu dos Valores.

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E foi sobretudo isto que me fez convidá-la para o 45 Graus. O Inquérito Social Europeu é uma sondagem realizada a cada dois anos, desde 2001, com o objetivo de avaliar as atitudes e comportamentos dos cidadãos de 24 países europeus sobre um leque muito variado de assuntos. 

Mas, no caso português, é sobretudo uma área específica que traz os resultados do inquérito para a ribalta: o nível do racismo em Portugal, porque o inquérito indica que é desconfortavelmente mais elevado do que tendemos a achar. 

Os resultados da versão mais recente do inquérito foram foram divulgados há cerca de um mês e mostram que quase ⅔ dos portugueses manifestam pelo menos uma forma de racismo, e apenas cerca de 10% da população (repito: 10%) discorda de todas as crenças que o inquérito identifica como racistas.

Como é fácil de adivinhar, estes números são como uma bomba que cai no debate público e na discussão sobre a dimensão do racismo em Portugal, um debate antigo mas que tem ganho tracção nos últimos anos, à boleia de estudos como este mas, talvez mais ainda, de um activismo crescente que chama a atenção quer para desigualdades estruturais quer para (alegada) violência policial sobre minorias e crimes com motivações racistas. Foi isso que aconteceu no caso recente do assassinato do actor Bruno Candé, que aconteceu (numa coincidência funesta) poucos dias depois de termos gravado este episódio… (sendo que, neste caso, tudo indica que o preconceito racista do homicida teve, no mínimo, influência no crime). 

Avaliar a dimensão do racismo em Portugal é, evidentemente, um exercício muito complexo, até por ter várias dimensões, mas, claro, a discussão nas redes sociais rapidamente se encarrega, com a sua pulsão para o pensamento binário e comportamento tribal, de politizar a discussão e de a reduzir a um debate entre dois campos opostos: o dos que garantem que Portugal “é um país racista” (excluindo, claro, depreende-se, os virtuosos autores do diagnóstico) e o campo dos que continuam a negá-lo. 

Por isso, decidi convidar a Alice Ramos para o 45 Graus, para não só tentar compreender, com a calma que um podcast proporciona, a dimensão, as expressões e, sobretudo, as causas do racismo em Portugal, mas também, de caminho, fazê-lo como deve ser, a partir da base, isto é, começando por tentar compreender por que existem e como funcionam aspectos quase universais da psicologia humana e da sociedade, como os estereótipos, o preconceito e os comportamentos discriminatórios.

Nota: há alguns conceitos que a convidada usa aqui e ali, e que todos usamos correntemente mas que, nesta área têm um significado mais específico:

  1. Os valores são os princípios com que orientamos a nossa vida, são aquilo que nos permite distinguir o que é bom do que é mau
  2. Os nossos valores influenciam as nossas atitudes, que são predisposições para agir de uma determinada forma, avaliações sobre situações específicas; o preconceito é uma atitude, mas também o é a nossa opinião face à legalização do aborto ou face à intervenção do Estado na economia, etc.
  3. Finalmente, os comportamentos, são as atitudes em acção: é o que verdadeiramente fazemos. A discriminação é um comportamento.

 

Índice da conversa:

 

Obrigado aos mecenas do podcast:

Paulo Peralta, Eduardo Correia de Matos, João Baltazar, Salvador Cunha, Rui Oliveira Gomes, Tiago Leite, Joana Faria Alves, Carlos Martins, Corto Lemos, Margarida Varela, Gustavo, Goncalo Machado Monteiro, Filipe Bento Caires, Rui Barbosa

Tomás Costa, Tiago Neves Paixão, Joao Saro, Rita Mateus, Daniel Correia, António Padilha, Abilio Silva, Ricardo Duarte, Tiago Queiroz, Joao Salvado, Francisco Fonseca, João Nelas, Diogo Sampaio Viana, Rafael Santos, Carmen Camacho, José Soveral, Andre Oliveira, José Jesus, Ana Sousa Amorim, Luís Costa, Sara Mesquita, João Bernardino, Manuel Martins

Vasco Sá Pinto, Rui Baldaia, Luis Quelhas Valente, Rui Carrilho, João Castanheira, Luis Marques, Joana Margarida Alves Martins, Tiago Pires, Francisco dos Santos, João Raimundo, Renato Vasconcelos, Marta Baptista Coelho, Hugo Correia, Mariana Barosa, Miguel Palhas, Pedro Rebelo, Nuno Gonçalves, rodrigo brazão, Pedro, Vasco Lima, Tomás Félix, José Carlos Abrantes, Duarte, José Galinha, José Oliveira Pratas, isosamep, João Moreira, Joao Pinto, Pedro alagoa, Francisco Aguiar, José Proença, Joao Diogo, JP, Marco Coelho, João Diogo Silva, Jose Pedroso, António Amaral, João pinto, Rodrigo Murteira Pedrosa, João Jaime, João Crispim, Ricardo Nogueira, Margarida Gonçalves, Miguel Lamela, Andrea Grosso, João Pinho, Andre Peralta Santos, Abílio Mateus, Paulo dos Santos, Telmo, Cátia João Prudêncio, Sérgio Catalão, joao Martins, Luis Filipe, Jose António Moreira, João Barbosa, Fonsini, Maria Francisca Couto, Carlos Magalhães Lima, Renato Mendes, Andreia Esteves, Alexandre Freitas, Tiago Costa da Rocha, Francisco Santos, Pedro F. Finisterra, Guilherme Pimenta Jacinto, Antonio Albuquerque, Fernando Sousa, juu-san, joana antunes, Francisco Vasconcelos, Gabriela, Paulo Ferreira, MacacoQuitado – Twitter, Pedro Correia, Francisco López Bermudez, Nuno Almeida, Carlos Silveira, Bruno Lamas, Francisco Manuel Reis, Diogo Rombo, Francisco Rocha, Fábio Mota, Diogo Silva, Tiago Gameiro, Pedro Conceição, Patrícia Esquível, Inês Patrão, Luis Miguel da Silva Barbosa, Albino Ramos, Daniel Almeida, Ricardo Campos, Ricardo Leitão, Vítor Filipe, João Bastos, Natália Ribeiro, André Balças, Hugo Domingues

 

Esta conversa foi editada por: Martim Cunha Rego

 

Bio: Alice Ramos licenciou-se em Sociologia no ISCTE e obteve o mestrado em Ciências Sociais no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL). Doutorou-se em Ciências Sociais, especialidade de Sociologia Geral, no ICS-UL, com a tese Human Values and Opposition towards Immigration in Europe, onde analisa o impacto de factores individuais e de contextos sociais nas atitudes face aos imigrantes, na percepção de ameaça a eles associada e no preconceito racial. Presentemente, é investigadora auxiliar no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Os seus interesses de investigação têm-se centrado no cruzamento de duas linhas de pesquisa: a) o impacto da articulação entre factores individuais (valores e atitudes) e estruturas sociais no desenvolvimento de atitudes discriminatórias, nomeadamente face aos imigrantes e refugiados, numa perspectiva multinível; b) metodologias de estudos trans-nacionais e longitudinais. Desde janeiro de 2018 é Coordenadora Nacional do European Social Survey-ERIC e do European Values Study. Em conjunto com Jorge Vala e Cicero Pereira fundou em 2009 a Escola de Verão de Métodos Avançados em Análise de Dados do ICS-ULisboa. Actualmente, é Coordenadora das Escolas de Verão/Inverno e vice-presidente da Comissão de Estudos Pós-Graduados do ICS-ULisboa.

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5 Replies to “#93 Alice Ramos – Estereótipos, preconceito e racismo”

  1. João Silva

    Um aspeto que me impressiona pela ausência de debate é aquela que se manifesta pelo preconceito relativamente à pobreza, independentemente da raça. Vivermos num estado de apartheid social. As classes sociais vivem em ambientes que raramente se cruzam ou relacionam. Este problema tem se agudizado com a separação de bairros sociais de pobres e ricos. Esta separação social contribui para a falta de compreensão social e mina a coesão nacional. O facto de se ter multiplicado a diversidade étnica e cultural aprofundou a criação de ghettos, a falta de comunicação e o desconhecimento do outro.

  2. Alexandre Paulo

    Eu considero-me não racista. Acredito, sinceramente, que apenas há uma raça humana e que a cor da pele é apenas uma característica distintiva, tal como o cabelo (a ausência ou não de cabelo, a cor, ter caracóis ou não) , a fisionomia (alto ou baixo, magro ou gordo, etc.) e assim por diante.

    Considero hipócrita ter o cuidado de dizer o “aquele senhor africano”, com pudor de dizer “aquele negro”, quando na realidade o dito senhor nem é africano, mas sim europeu, português porque nasceu em Portugal, filho de pais portugueses.

    No entanto choco-me como o racismo nos foi cravado e marcado a ferros nos nossos hábitos e comportamentos. Por exemplo, um amigo traz-os umas cervejas, mas fez mal as contas e não trouxe uma para mim, ao que disparo “Então e eu? Sou preto?”.

    Dói-me fisicamente quando constato isto. Como água na terra, o racismo parece infiltrar-se em todos nós. “Então e eu? Sou preto?” é dito de forma inocente e jocosa, e isso preocupa-me mais que um insulto atirado por um qualquer racista assumido, porque vive debaixo das nossas peles, como um vírus à espera das condições ótimas para crescer e multiplicar-se.

  3. Alexandre Paulo

    A propósito das questões sobre a inteligência, à volta do minuto 76:

    Inteligência, educação, formação, escolaridade e informação são coisas muito díspares, e umas não implicam necessariamente as outras.

    Quem manipulou as massas e conseguiu eleger Donald Trump é certamente inteligente. Poderemos até mesmo afirmar que Donald Trump (reconhecidamente inculto, mal formado e com escolaridade discutível) é inteligente, pois certamente um total estúpido jamais conseguiria chegar a presidente dos Estados Unidos

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